O que dizem da travessia... Encantragueiros!


HERÊ AQUINO

Quando a gente dorme vira de tudo...

O processo de Encantrago deliberou de forma mais clara a minha travessia no teatro, redefinindo conceitos, aprofundando métodos, trazendo lembranças encantadoras de minhas primeiras encenações. Sementes de um aprendizado que já brotava com força e que somente hoje enxergo em sua totalidade. Fundamentos sólidos e paixões maravilhosamente líquidas. Sol e Lua, masculino e feminino, noite e dia, métodos recheados de técnicas e espontaneidades recheadas de paixões que através da magia do encontro entre o público e os atores de “Encantrago...” gerou teatro e vida.

Evoé


JOÃO PAULO PINHO

Fazer Encantrago é bem mais que exercer um ofício ou desenvolver uma atividade geradora de adrenalina. A comunhão que o espetáculo exige de nós, atores e atrizes do elenco, impõe um “elevar-se” à um estado fraterno de abertura para o limite do improvável e do domínio. Encontrar esse nível de abertura voluntária é o grande desafio desse espetáculo pois exige de nós, e do público, total desprendimento das convenções já estabelecidas para o fazer teatral. Desconstruir essas convenções junto com o público e convidá-lo à uma nova codificação das “regras do jogo” revela novamente a espontaneidade do desejo pulsante de expressar arte através do teatro.

Nonada.


MARINA BRITO


Encantrago faz parte desse meu coração mambembe desde o início da travessia. Mas aos poucos ele foi costurando em mim alegrias e prazeres inigualáveis de um processo gestante difícil e pedregoso. Não foi só pelo trabalho grupal que indubitavelmente nos enriquece na arte do teatro, mas pelo amadurecimento grandioso que passamos juntos durante esses dez meses...

Fazer Encantrago é como mergulharmos em nós mesmos. Vejam só ás vezes me pego pensando nas minhas atitudes diante da vida e conciliando com as maestrinas palavras do Guimarães Rosa. “O correr da vida embrulha tudo” E tanto embrulha como desembrulha. O que precisamos é de coragem!

Vejo tudo isso como uma grande carga de sabedoria adquirida. E experiências, claro! O que ainda não passamos com Encantrago? Que sensações ainda não experimentamos? Está ali não só diante do público, mas literalmente com ele em cena é arrepiador, é instigante, é frio e dor na barriga, é o organismo vivo, latejante.

Como atriz/estudante, tenho o espetáculo como um ponto de partida para afirmação de um ator pesquisador, com muita leitura, conhecimento e vivência de mundo. Ainda proporciona o conhecimento do meu corpo/voz e fortalecimento da sua resistência dentro e fora da cena.

Eu acho Encantrago uma vivência sincera, olho no olho, pulso no pulso, e que necessita muito da nossa firmeza, concentração, para que o barco ande... até por que além do palpável queremos trazer o principalmente o encantamento ainda que ele seja insaciável.



ANNALIES BORGES


Bem, já estamos aqui, será que valem alguns sussurros desesperados em meio ao grito da realidade que me circunda.

Tenho sido tão urbanamente conturbada e devorada, sugada por meu outro ser (professora), que estar só é uma benção.

Ficar cismando, pensativa, contemplando e observando o mundo para mim é um instante de certeza de que ainda estou viva.

Esse ensimesmamento, que nos faz apreender o que a vida nos oferece todos os dias, é o que permite que não destruamos nossa identidade e é o que nos permite encontrar nosso Sertão.

Ai, arre, o processo... Vivi de tudo nesse vale de pedras, pedregulhos e mar... Sim, porque o processo foi e é ainda uma surpresa, cada dia, cada ensaio, cada apresentação é um misto de descobertas, conflitos, solidão, imersão na alma do outro, gritos, silêncios, bagunça do pensar, prazer descontente, angústia feliz e partos, partos, partos, chegadas e partidas. É uma travessia.

Tenho sentido que nada é previsível e tudo ao mesmo tempo é tão óbvio, isso me acaba... É que somos feitos de carne e éter. Aceitar a dualidade de nós seres humanos, com nossos demônios e anjos no caminho é que se torna o desafio do processo. Descobrir-se, aceitar-se e ser capaz de mostrar aos olhos dos outros que a vida é assim mesmo "sossega e depois desinquieta", e que essa coragem que nos é dada por essa força maior que coube (sabe-se lá por que) a designar-se de Deus é exatamente para que prossigamos na lida, na vida, nos aboios infindos de uma "ciranda do tempo".

Eu sei lá... Tô pensando aqui com meus morcegos... Creio que a maior descoberta nesse processo - que sim me ensinou a crer que o trabalho em grupo, o ouvir o outro, o repartir tropeços, o conviver banquetes, o saborear destroços, despedidas, desvãos, gritos frenéticos e aplausos surpresos e surpreendentes - a maior descoberta foi a de que "viver é muito perigoso", mas que necessito tanto tanto desse risco...

Mas para resumir o que sinto (o que só é possível numa visão didática de depor, porque o sentir é muito mais complexo que isso): o processo, assim como as pessoas, ainda não foi terminado, mas que ele vai sempre mudando. Afina e desafina. Isso que me alegra de montão (e me deixa danada da vida, porque nunca é suficiente, nunca, que merda!). Não sacia, temos sede, temos sede...Contudo, isso é "o que é mais importante e bonito do mundo".

"As coisas que não têm hoje e ant'ontem amanhã: é sempre.

Ai, arre, mas; que esta minha boca não tem ordem nenhuma.

Guerras e batalhas? Isso é como um jogo de baralho, verte e reverte

As pessoas e as coisas não são de verdade. A vida disfarça."

E o teatro revela.



JULIANA VERAS


"Encantrago mudou o meu corpo, mudou a minha mente, mudou o meu espírito.
Me sinto trespasada por este espetáculo, como se uma flecha fincase no meu peito, e ficasse. Apresentá-lo é como atravessar uma noite inteira de lágrimas, seguida de um dia de risos....."


MARINA BRIZENO

"Costumo dizer que Encantrago é o diabo na rua, no meio do redemuinho. Digo isso, pelo fato desse espetáculo ter me perdido e me achado. Virei outra nesse processo. Multifaceteada, louca. Todo dia, uma diferente, um aprendizado diverso. Tem sido mais do que no palco, o palco é um dos aspectos indispensáveis e recompensantes. Mas conviver com essas pessoas, com esses artistas tão diferentes; conhecer suas histórias de vida, suas potencialidades. Tem sido inteiramente gratificantes do processo, mas aprender com cada um de nós 10, 11, 13, 15... Com todos nós que, de alguma forma, participamos e contribuimos com o processo. Creio que tenhamos aprendido todos sobre pesos e medidas, sobre concessões e lutas; tudo no sentido de aprofundarmos com esmero e suor, muito suor essas veredas tortuosas de nosso lindo Encantrago. Ôxe, como diz Guimarães, em sua sabedoria sertaneja, viver é muito perigoso..."

Comentários

Luiz eduardo Pacheco disse…
Marina, você é fantástica... cheguei a acreditar que você realmente fosse a garotinha... mágico... surpreendente... meus aplausos!
Obrigada! É maravilhoso saber disso... nós estamos adorando receber os comentários de todo mundo que viu, e que saiu de lá querendo dizer alguma coisa...

um abraço!
Valeu!

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