DA LEITURA E DEBATE DO TEXTO “TEATRO E RITUAL” DO JERZY GROTOWSKI, CONFERÊNCIA FEITA EM OUTUBRO DE 1968.

Por Marina Brito


Compreendemos e aprendemos que em uma das suas mais primitivas origens, o teatro surgiu de cerimônias e rituais religiosos. Assim vemos na Grécia esse surgimento a partir dos cultos ao deus Dionísio e do ditirambo. Patrice Pavis nos explica que, o teatro por si só já se estabelece num ritual para acontecer: o processo da montagem, a escolha do assunto, a preparação do ator, a relação com o público, etc.

No texto, Grotowski aborda e defende no início da sua pesquisa no grupo o retorno ao ritual, não no sentido primitivo na qual já falamos, mas no reencontro desse teatro com o mito, bem como a participação das duas partes, atores e espectadores.

Na busca por um “teatro vivo” e em confronto com o mito, Grotowski considerava que só poderia aproximar o teatro do ritual se o mesmo desprendesse do próprio ritual primitivo. Só assim encontraria o caminho de uma “apresentação sagrada”, de um acontecimento único, assim como o “desnudamento sacrifical” do ator. Ou seja, a busca do ator por um desvelamento de sim mesmo. Quebrar a dissociação entre corpo e alma, entre racional e instinto, entre o consciente e o inconsciente, etc.

O ator deve se encontrar em tempo presente, penetrar no seu próprio corpo e na suas experiências não só como ator, mas como ser humano. É preciso que desapareça da consciência do ator o sentido do antes e do depois no momento do ato teatral. Ele precisa estar presente em cada momento. Por isso, a importância da construção da partitura, dessa preparação que irá estabelecer a concentração do ator no que faz, como no seu corpo e voz.

Parece-me que dessa forma Grotowski nos faz chegar ao resultado de que, para obtermos o ritual teatral precisamos separar o conceito primitivo de ritual religioso para chegar ao ritual humano. O ator não apenas como o ator e sim como ser humano, “vivo”. “Através do ato e não da fé.” Concluo que, não seria necessário apenas a co-participação coletiva direta ou indireta, mas a troca estabelecida entre as duas partes, a elaboração e apresentação de signos, e a relação precisa e cúmplice com os “espectadores testemunhas”.

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