Diário de Bordo - Porto Alegre


Por Herê Aquino


Porto Alegre, primeiro pouso de “Encantrago” saindo do Ceará. Expectativas... curiosidades... anseios de artistas nordestinos que atravessam o Brasil com um espetáculo que prima por “tocar” o humano. Saímos, assim, carregando nas bagagens o que temos de mais bonito... nossa arte, nossos sentimentos e nossas idéias, todas amalgamadas nesse emaranhado de elementos que formam o espetáculo e o que chamamos Brasil, o que chamamos gente, o que chamamos vida.
E nessa viagem louca entre a terra, a água, o fogo e o ar fomos cruzando com nossos “anjos. Em Porto Alegre foram tantos... Diana, Lili, Thiago, Paulo, pessoas encantadas que nos receberam com tanto carinho e respeito. Esse projeto tem disso: sensibilidade a flor da pele, dignidade para com os artistas que por alguns momentos nos faz esquecer quão alheia é a nossa arte para nossos governantes. Penso em como seria possível se eles quisessem ... mas falta muito para a sensibilidade e responsabilidade chegar nas cúpulas do poder.
Questões a parte, e com uma estética vertiginosamente carregada de elementos regionais, pois apesar do universal cada um carrega sua aldeia dentro de si, mergulhamos no micro para chegar ao macro da existência humana com a flecha apontada para nosso alvo maior: o coração e a mente humana. Como nos diz Guimarães: “o mais importante e bonito no mundo é isso, que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que vão sempre mudando, afinam e desafinam, verdade maior, é o que a vida me ensinou”,

Por Nataly Rocha

Meu Deus, que loucuraaaaaaaaaaa. Que Brasil imenso! Depois de fazer não sei quantas escalas em aeroportos, tentar de várias maneiras se acomodar na poltrona do avião, mascar chicletes pra não sentir dor de ouvido... Chegamos à bendita cidade do churrasco delicioso e do povo lindo de morrer – risos.
Foi maravilhoso conhecer um pouco da cidade: árvores imensas, calçadas planas, praças repletas de pessoas fazendo piquenique... parecia até aquelas novelas das oito de tanta coisa bonita que a gente viu por lá. As ruas todas limpinhas, os carros paravam quando íamos atravessar na faixa de pedestre (isso não deveria me causar espanto!).
Todos nos receberam muito bem, era a inauguração daquele espaço tão aconchegante. Havia falado que nossa apresentação foi 3x4... tudo reduzido! A luta de espada foi interessante, tínhamos olhos por todo o corpo. Os refletores estavam mais  baixos do que o de costume, o público muito perto. Testamos, nós mesmos, o perigo de sentar em determinados locais para ter a segurança de que as pessoas não se machucariam na hora da peça... pra você ver, tudo é em função do público que vai nos assistir! E pra mim, o Teatro Ritual trouxe isso: uma valorização da presença humana, da troca, do permitir-se, o coletivo, o novo-velho transe da cena. Evoé! 


Por Marina Brizeno


Vôo nas nuvens. E aquele lugar lindo, maravilhoso “Santo Da Casa Estação Cultural” tinha, ainda por cima, sido uma casa de santo, um terreiro.
Eu acredito e peço sempre que os orixás, espíritos e deuses nos dêem passagem para Encantrago, pois nossa peça fala dos conflitos do homem, e é também muito espiritual. E ontem nós comungamos com aquele lugar.
E com as pessoas! Gente que povo lindo! “Barbaridade!” Um público ávido dentro do espetáculo, da cena. Uma platéia que reagia ao que dizíamos, ao que sentíamos. Senti o Ser Tão, de que falamos no espetáculo, naquelas pessoas sem as barreiras artificiais, culturais ou espaciais que pudessem nos separar. E era o que sempre pensávamos... “Como é que vai ser lá nos sul? Com pessoas e costumes tão diferentes dos nossos? Diferença que nada! Construímos ali uma redoma, um lugar possível da mais pura integração e cumplicidade, mesmo com as dificuldades técnicas. Ah! Não posso deixar de falar no Paulo e no Thiago que nos receberam em sua casa de forma super calorosa e também a todos do Sesc de Porto Alegre pela produção maravilhosa!


Por Juliana Veras

Pois bem, é muito bom falar sobre uma apresentação quando ela é um sucesso! A de Porto Alegre foi, graças a Deus, a tantos fatores envolvidos ali, ao SESC, a nossa vontade, as boas energias de quem torce por nós e as boas almas que encontramos nessa caminhada. Porto Alegre foi uma das experiências mais incríveis que Encantrago já passou. Pela dimensão do espaço, principalmente. Era muuuito pequeno. Não desconsidero o fato de que provavelmente vamos encarar condições assim em outros espaços, mas viver isso foi... “dificultoso”, como diz o Seu Capiau. O ideal é ter pelo menos 7 metros de diâmetro para o palco, e creio que 3 metros seriam o mínimo para a altura, considerando que temos atores em perna de pau e em cima desses. Bom, era uma sala, semelhante a uma sala de dança, com espelhos e tudo. Tiramos a cabeça do totem; o Tomaz, que estreou como iluminador – se garantiu!!! – teve que utilizar refletores no chão... A aventura de desviar dos refletores foi inesquecível, e as lutas de espada, meu Deus, em cima do público, exigiu um contido que quase decidimos usar canivetes!

Mas o espaço, o espaço... era lindo, absolutamente. Era uma sala de dança, poderosamente abençoada em muitos sentidos, Meme Santo de Casa Estação Cultural, onde nos receberam como anjos Tiago e Paulo, músico e bailarino respectivamente. Lá deixei uma semente de Jucá/Pau-Ferro, trazida dos jardins do Theatro José de Alencar. Esta semente e minha saudade. Encantrago batizou o lugar, foi a primeira apresentação teatral depois que o espaço se estabeleceu como tal. Mas é claro que nosso planetinha aqui, com seus mais de 4 bilhões, tem suas maneiras de deixar impresso o passado com o qual comungamos, e comungamos mesmo.
 

Nos hospedamos no Everest, Cidade Baixa, próximo à praça da Matriz, pertinho do Theatro São Pedro, que em 2008 fez seus 150 anos. O frio macio encantador maltratou mais no domingo 16, dia da apresentação. 

Diferente do que nos preveniram, o público gaúcho nos recebeu muito bem. Totalmente envolvidos com a proposta do espetáculo, dançaram e cantaram conosco o tempo inteiro, em cena e de seus lugares inconstantes na platéia. Pelas mudanças para adaptação no espaço, o resultado foi surpreendente. De fato, “deu certo porque era pra dar certo”, simples assim.  







Por João Paulo Pinho

Pela manhã, tomar café cedinho para 9h ir pro teatro. Montar luz e cenário. Árdua tarefa principalmente para o Tomás que ficou até as 17h sem almoçar. Ir à Feira, fazer compras e almoçar (comprei uma cachaça maravilhosa, depois de provar várias outras). Ir para o hotel, descansar e, às 17h, voltar ao teatro para ensaio técnico e apresentação. Ui ui ui. Loucura. O espaço era tão pequeno quanto a Sala de Teatro Nadir Papi Sabóia, com a complicação de estar ocupado por equipamentos de ginástica. Mão à obra: levanta aqui, leva pra lá. No final das contas, deu tudo certo. Algumas mudanças mas nada muito comprometedor (falando assim parece ter sido fácil – não foi). Próximo de 20h e lá estávamos nós: banheiro vai e vem, objetos de cena dando trabalho e adereços para arrumar. Iniciamos o cortejo no pequeno hall de entrada do Santo de Casa Estação Cultural, do Grupo MEME. Os pés descalços no chão gelado sugavam energia que era transformada em gritos, loas e sorrisos. O público parecia ter sido surpreendido. A relação, estabelecida de imediato, perdurou por toda a apresentação. Alguns erros aconteceram, muitos deles devido à adaptação do espaço, mas o foco principal do espetáculo, o confronto entre ator e espectador e suas relações possíveis, foram atingidos fazendo das falhas técnicas fatores irrelevantes. Terminamos o espetáculo em êxtase. Fantástico, dever cumprido. Os menino, donos do espaço, vinheram nos falar que alí, no espaço que estávamos inaugurando, existiu um centro espírita e uma casa de umbanda. Arrepios. Não posso terminar sem antes agradecer o empenho e a dedicação em receber bem que Paulo e Thiago tiveram conosco. Muito obrigado Porto Alegre!!!!


Por Marina Brito


Não. Definitivamente não esperávamos esta recepção em Porto Alegre. Falo do espetáculo. Da nossa querida relação com o público, momentos mais importantes do Encantrago. Lugar frio. Cidade estranha a um olhar cearense. Mais linda. Lugares distintos de culturas distintas, que mais uma vez provou que distância não interfere no que é singular a relação entre os povos: o calor humano, a comunicação cultural. Afinal, fazemos parte de um todo. E esse "Brasilzão" é a pova de que a mistura de tudo deu e dá certo. Que lindo!
Confesso, fiquei nervosa e um pouco aturdida com o espaço minúsculo que tinhamos para apresentar. Mas, aquele lugar era tão lindo, aconchegante. O Paulo e o Thiago nem se fala! Uns amores. Saudades. 
Comecei, enfim, a imaginar e a curtir a nossa apresentação ali. E aguardava ansiosa por mais tarde... à noite. E que maravilha! Que público! Quantos sorrisos, olhares atentos, energias participativas... voei... e de repente tinha acabado. E todas aquelas palmas que não queriam terminar... nem as nossas e nem as deles... Me emocionei. A garganta se contorceu um pouco. Alegria. Obrigada Porto Alegre!

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