Visitando os baús de afetos e lembranças - parte 2

Dando continuidade a esse momento de visita aos antigos baús do Grupo, resolvemos colocar o editorial do Jornal Eco nº 2, publicado em 1998. Essa escolha se deu, infelizmente, pelo tema ainda ser de extrema atualidade, o que no leva a crer que antigos problemas longe de terem sido resolvidos foram, na verdade, apenas camuflados. Esse trânsito, entre o velho e o novo, tem também essa finalidade, trazer a tona “velhas” lutas, ainda extremamente relevantes, para que elas sejam revisitados e reavaliadas. Vamos então nos deleitar ao prazer da leitura.


“Quando se edita um jornal, três meses passam voando... Muitas coisas acontecem... No início parece que tudo tem que ser publicado... O jornal parece pequeno... Passa o primeiro mês e algumas matérias, antes tão quentes, ficam ultrapassadas, outras, continuam vivas apesar do tempo. Essas, pertinentes, chegam ás páginas do Jornal Eco com gosto de “PROVOCAÇÃO”.
Provocação, do latim “provocatione”, ato ou efeito de provocar. Insulto, afronta, ofensa. Puritanismos á parte. Quando não se está em cima do muro, quando se tem postura, idéias e ética, termina-se inevitavelmente por incomodar e provocar a muitos. 


Mas isso agora não vem ao caso. Vamos seguir com a definição do Aurélio. Pessoa que provoca, desafia, seduz, tenta, tentação, estimulação, incitação. Palavras grandiosas se a alma não for pequena, como diz o poeta.  Que sinônimos teriam mais essa palavra, para definir a grandiosidade dos que fazem de sua arte, ponta de lança na abertura de novos caminhos?
Nós artistas, provocadores natos, sedutores do espaço vivo, estamos doentes. Apáticos ao tempo que passa. De provocadores estamos precisando ser provocados. Que tempo é esse onde os artistas calam? Se calam, consentem. Se os artistas calam quem fala?

Estamos hoje, muito mais preocupados com o nosso próprio umbigo que com a política sócio-cultural do país, por exemplo. Nós, formadores de opiniões, estamos mais para “deformadores”, quando, irresponsavelmente, produzimos “besteirol” a cata de alguns trocados.  Pior do que a falta de técnicas teatrais que todos falam, muito pior, é a falta de idéias que beiram a bestialidade humana. 

Reclamamos da falta de público nos teatros com a mesma alienação dos que falam que o povo passa fome por não querer trabalhar. Vale plagiar um jornalista que por ocasião de um Festival de Guaramiranga, comentou: “Triste de um povo cujo teatro banha-se no próprio lixo”. Vamos pensar minha gente”!


Mas o teatro resiste! Uma brecha aqui, outra ali e apesar dos boicotes vamos abrindo caminhos, somando esforços com os que se preocupam com a melhoria do fazer teatral e com a contribuição que o teatro pode dar em nível de crescimento humano e social. Com nossos sonhos e, principalmente, nosso respeito pela dignidade humana, vamos avançando. Se continuamos a fazer teatro numa terra onde o governo tenta monopolizar a cultura, mola mestra de contestação, é porque acreditamos na força da arte na vontade transformadora de todo artista.”

Grupo Expressões Humanas

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